segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O ESTRANGEIRO - ALBERT CAMUS

Numa de suas principais obras, o escritor franco-argelino Albert Camus faz do existencialismo a razão máxima de sua existência

José Donizetti Morbidelli

“Compreendi, então, que um homem que houvesse vivido um único dia, poderia sem dificuldades passar 100 anos numa prisão. Teria recordações suficientes para não se entediar.”

Essa frase traduz perfeitamente a exploração do absurdo, conceito que caracterizou o escritor Albert Camus. O personagem principal do romance mergulha num mundo sem emoções e sentimentos, e é a carência de sensibilidade que se transformará na própria arma que o tornará vítima da justiça. Entretanto, nem mesmo a máquina judiciária o fará mudar de comportamento.
A obra de Albert Camus surge para tentar contrariar o conceito de que a arte é a manifestação dos sentimentos do ser humano. A inexistência de emoções leva o personagem a um vazio interior, causando uma profunda resignação no leitor. É impossível não sentir um mal-estar diante dessa frieza. Contudo, analisando a obra pelo lado do realizador e não na visão do personagem, é incrivelmente bem sucedida a maneira de conduzir o leitor a uma reflexão existencialista da vida. Resumindo, Albert Camus é um verdadeiro artista na concepção da palavra por mexer com os sentimentos do leitor, mesmo que esses sentimentos sejam de total repugno diante da leitura.
Mersault, o personagem central, jamais seria um artista pelo fato de ser totalmente dominado por um vazio, por uma crise existencial que ultrapassa as fronteiras da compreensão humana. Desde a notificação da morte da mãe, passando por um ato homicida até a confirmação da condenação, ele age da mesma maneira. Essa indiferença não se faz presente somente nesses fatos, os mais importantes dentro da trama, mas também em outras situações elementares e relacionamentos de menores relevâncias. O absurdo existencial do personagem procura conduzir o leitor a uma identificação com essa experiência, a mergulhar num mar vazio, onde a essência da vida é simplesmente viver. Por outro lado, a análise do trabalho como “arte” reside na capacidade de modificar o comportamento do leitor, ou o mesmo se adere à crise existencial ou repudia a conduta, repúdio que poderá comprometer a própria relação com o autor.
Talvez seja esse conflito que Albert Camus queira estabelecer em nossas vidas, a visão de que somos nada mais do que simples animais irracionais em nossa singela existência, que a morte nada mais é do que uma conseqüência natural da vida, e que os sentimentos e a racionalidade não podem prevalecer diante de qualquer circunstância.

Recanto das Letras - 2005 (http://recantodasletras.uol.com.br/resenhasdelivros/86593)

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2 comentários:

  1. A vida nada mais e que uma experiencia bem singular e nao existem parametros exatos de definicao de nada nen de ninguen!!
    Roger ( florida usa )

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  2. Peguei esta obra hoje na biblioteca, li um comentário sobre e me interessei... Li sua resenha e parece mesmo interessante... veremos... bjos!
    Celly Borges

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