
José Donizetti Morbidelli
Adaptação cinematográfica do livro 1984, escrito por George Orwell em 1948 e que discute a dominação das massas por um regime autoritário e ditador. O poder adultera a mente das pessoas, e a única alternativa é aceitar e jurar lealdade ao partido. O sistema é imutável, e tudo o que desviar a atenção ou comprometer essa relação entre o domínio exercido sobre a massa, tem que ser combatido. Críticas, revoluções e questionamentos que interfiram na sociedade são encarados como patologia social – concepção positivista.
A propriedade fundamental da indústria cultural, segundo T. W. Adorno, é impor uma ideologia às massas, desviando as atenções da realidade no sentido de se configurar uma cultura de dominação. O consumidor torna-se, portanto, um mero elemento dentro de sistema e, de forma inconsciente, adere ao que lhe é imposto. Contudo, a indústria cultural não teria condições de prosperar sem a existência das massas.
Todos fazem parte de um determinado regime, assim como no filme em análise, apesar do meio social atual não ser tão pragmático a ponto de privar o ser humano da liberdade de pensamento, emoções e outros prazeres citados no longa metragem. Há de ser analisada a ideologia de ambos que, guardada as devidas proporções, constituem-se da mesma essência: o caráter de dominação.
Como exemplo dessa dominação, novas línguas e códigos são criados, e todos são obrigados a se adaptarem às linguagens que são determinadas. No filme, a menção da Nova Língua – 10º Dicionário – indica perfeitamente essa imposição do código. A história é apagada, palavras são destruídas e outras são criadas, de forma que não instiguem o pensamento. O código busca uma linguagem perfeita, e quando todos o conhecerem não haverá mais necessidade de disciplinas. É o imperativo categórico da indústria cultural, que isenta a condição do indivíduo pensar o mundo a sua volta. O medo constitui um dos principais motivos da aceitação do sistema, torna-se explícito que qualquer um que infringir a lei deverá ser punido. Na ficção por meio de torturas e lavagem cerebral e, na realidade, por persistência.
A mente é treinada ainda para perceber uma realidade do mundo que, na verdade, não existe. A própria guerra é uma ilusão, o inimigo não é real. Pensar o mundo a sua volta constitui crime, o que o sistema impõe é uma aparência de mundo sob absoluto controle, com as coisas funcionando perfeitamente. A indústria cultural desperta a mesma sensação de conforto. As indicações estatísticas da diminuição e controle das doenças indicam essa falsa realidade. As cenas em que o personagem central Winston (John Hurt), após ser persuadido a aceitar o regime, diz estar curado e revela seu amor ao Grande Irmão, prova esse caráter de dominação que qualquer regime ditador é capaz de estabelecer. Assim também é a indústria cultural, que reorienta as massas, definindo padrões de comportamento, mas que ainda permite a liberdade de dizer que dois mais dois são cinco.
Recanto das Letras - 2005 (http://recantodasletras.uol.com.br/resenhasdefilmes/86591)
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Muito bom garoto, muito bom [4] cof, cof, cof
ResponderExcluirMalu
Sou professora e foi realmente muito proveitoso pra mim ter esse texto me orientando. O filme é muito interessante, e com esta nova visão consigo fazer uma melhor análise, e de um ponto de vista diferente!
ResponderExcluirRoberta