
José Donizetti Morbidelli
O cinema dinamarquês não é lá dos mais conhecidos. Até hoje, o pequeno e próspero país do norte da Europa só legou à história da sétima arte filmes como A Festa de Babette e Pelle, o Conquistador (Oscar de melhor filme estrangeiro em 1988 e 1989, respectivamente, sendo que o último ainda levou a Palma de Ouro em Cannes), além de algumas fitas de caráter mais cult. Pois agora o país volta a ser manchete com o longa To Verdener (Worlds Apart em inglês, ou Mundos Separados em português), numa aposta um tanto inusitada. Baseado em fatos reais, o filme retrata os conflitos vividos pelos adeptos do movimento religioso Sociedade Torre de Vigia, mais conhecidos como Testemuhas de Jeová.
Considerado sectário pela maioria das igrejas evangélicas, o grupo vive em constante conflito com práticas que considera mundanas, sobretudo na questão dos usos e costumes. Pois é nesse meio que Sara – papel interpretado pela atriz Rosalinde Mynster – se vê dividida entre a fidelidade aos princípios estabelecidos pela doutrina e uma paixão arrebatadora. Acontece que o rapaz em questão, Pilou Asbaek, se não chega a ser um ateu, não deixa também de expor seus pensamentos acerca do que considera ser exagerado em relação a certas práticas religiosas da moça. Para piorar, os pais de Sara passam por uma séria crise conjugal, cabendo a ela – não bastasse os problemas pessoais que já enfrenta – tentar controlar a situação, com base nos princípios de fé ainda não transgredidos pelas descobertas amorosas. Um caldeirão e tanto, não é mesmo?
Quem dirige o filme é o dinamarquês Niels Arden Oplev, cujo nome é mais associado a produções infantis do que a histórias com temáticas religiosas ou dramas familiares como To Verdener – tanto, que ele foi um dos consultores estrangeiros convidados para o Laboratório SESC Rio de Roteiros para Cinema Infantil, evento realizado em São Paulo no mês de setembro. Adultério, preconceito e intolerância são alguns dos temas explorados pelo roteiro, ingredientes suficientes para render muitas discussões.
“Caminhos sem culpa” – A Sociedade Torre de Vigia é a instituição surgida nos Estados Unidos. Os testemunhas de Jeová praticam uma fé baseada em interpretações literais e fundamentalistas de trechos bíblicos. Ao contrário dos evangélicos, eles não consideram a divindade plena de Jesus e acreditam-se mais capacitados espiritualmente para enfrentar os episódios narrados no Apocalipse acerca do fim dos tempos. Um dos pontos mais polêmicos e conhecidos de sua doutrina é a proibição às transfusões de sangue, ainda que o procedimento seja considerado fundamental para salvar a vida do paciente – razão pela qual já moveram e sofreram inúmeros processos judiciais. Todas as decisões organizacionais e doutrinárias relativas ao movimento são tomadas pelo chamado Corpo Dirigente, órgão sediado em Nova Iorque, nos EUA, e considerado por seus adeptos como o único canal de comunicação entre Deus e a humanidade.
“A vida não é um filme, você não entendeu". É fazendo uso dos versos do cantor e compositor Herbert Viana que o professor de história e ex-testemunha de Jeová Jerry Santos Guimarães critica os que esperavam um desfecho mais hollywoodiano – ou o clássico final feliz – para o filme. “Muitos podem não gostar, mas eu acho que a história já vale a pena pelo fato de a personagem se libertar e, finalmente, poder escolher seus caminhos sem culpa”, diz. Atualmente, Jerry é candomblecista e um dos administradores do TJ´s Livres
(www.forum.clickgratis.com.br/tjlivres) – uma espécie de fórum de discussão que reúne relatos e troca de experiências entre ex-adeptos do movimento no Brasil e em Portugal. “Acho que a produção não deve ser analisada apenas como entretenimento, mas como ferramenta a ser utilizada pela dissidência para atingir membros da Torre de Vigia”, comenta.
To Verdener, que ainda não tem data para chegar ao Brasil; estreou no Festival de Berlim no início do ano e já abocanhou o Prêmio Signis no 24º Festival Internacional de Cinema de Tróia – o Festróia –, realizado na cidade de Setúbal, em Portugal. Na opinião do júri, Oplev explora com delicadeza e sensibilidade cinematográfica a escolha entre a fé, a entrega pessoal e o amor. Agora, a mira dos produtores está voltada para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, já que o longa foi um dos escolhidos pela Dinamarca para concorrer a uma das vagas para a final. A cerimônia acontece em março, nos Estados Unidos. Será que a história de conflitos religiosos da jovem Sara terá a mesma consagração de A Festa de Babette e Pelle, o Conquistador, vinte anos depois?
Fonte: Revista Eclésia - Edição 128
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Qualquer organização que assuma a posição de que pratica a fé baseada na Bíblia e que conhece o caminho da salvação deve estar disposta a ser esmiuçada e criticada. E ao mesmo tempo, todos que criticam e/ou comentam têm a OBRIGAÇÃO de ser verdadeiros na apresentação dos fatos, justos e objetivos na avaliação dos mesmos. Sem dúvida, estes desejariam o mesmo tratamento para eles se caso se fizesse algum comentário arrespeito dos mesmos. Notável é que geralmente é raro encontrar alguém disposto a assumir essa OBRIGAÇÃO quando o assunto é Tastemunhas de Jeová. Essa tendencia geral torna-se uma ferramenta perfeita na mão do produtor do filme, do TJ' Livres e do escritor dessa matéria, afim de tornar atraente o que dizem ou exibem sem a nescessidade de avaliação. Não estão nem aí para as consequencias. O simples fato de um filme concorrer a um prêmio não significa que tudo o que ele diz é verdade. Será que o diretor do filme em questão analizou mesmo de maneira justa os "fatos" a respeito do modo de vida destes religiosos TJ's? Onde ele achou um pastor com "barba" entre as Testemunhas de Jeová? Que sentimento imediato o filme suscitará nas pessoas? Curiosidade ou preconceito? Respeito ou aversão? São incalculáveis e imprevisíveis as consequencias de um comentário sem base fundamentada e sem evidências sólidas. Mas é assim mesmo né. o mundo está carregado de preconceito. E isso assusta, pois, como disse certo escritor: "TODO PRECONCEITO CARECE DE BOM RACIOCÍNIO E DE BOA RAZÃO."
ResponderExcluirTasso
Achei muito oportuna a matéria sobre o filme “To Verdener” que mostra uma faceta obscura e bem guardada a sete chaves entre os adeptos das “Testemunhas de Jeová” que é o tratamento discriminatório dado a ex-membros ou mesmo de quem sai da mesma por discordar de algum ponto doutrinário mesmo sendo algo não bíblico. A revista Eclésia publicou em abril de 2002 uma reportagem de capa com uma excelente abordagem sobre esse estranho mundo e sua forma de interpretar o evangelho, porém acredito que agora muitos poderão constatar que além da teologia desfocada de um olhar cristão e o absurdo de ver pessoas morrerem pela recusa do sangue, outra morte nos aparece com o mesmo potencial destruidor que é a morte social. Quando deixa-se as TJs o seu nome é algo proibido de ser citado dentro de uma congregação, as pessoas antes amigas não dirigem mais a palavra e nem sequer o cumprimentam e familiares passam a ter um limite na associação, ou seja, você se torna um estigmatizado ou como preferem chamar de apóstata. É interessante ver como tanto a lei dos homens como a de Deus são esquecidas por essa denominação religiosa, pois já diz a declaração universal do direitos humanos que toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e confirmando isso nos atos dos apóstolos Pedro afirma que Deus não faz acepção de pessoas, mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo.
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